Fui criado no sertão
Muita gente sabe disso
Minha mãe fazia rendas
Nas folgas do seu serviço.
Meu pai cuidava da roça
Era grande o sacrifício
Toda nossa vizinhança
Punha confiança
Nos seus compromissos
Nas casas em que moramos
Eu, meus pais e dois irmãos
Paredes de pau à pique
Sem nenhuma proteção
Piso de terra batida
Camas fincadas no chão
Colchão de palha rasgada
Cobertas tramadas
Com fio de algodão
O fogão era de barro
Feito em cima de forquilhas
Em baixo a lenha de angico
Dava o fogo que fazia
Nas panelas pretas de ferro
A bóia que a gente comia
Com as brasas que juntava
Minha mãe assava
O biscoito do dia
Num pilão de sucupira
Pesado solto no chão
O café era moido
A custa de calos nas mãos
Paçoca de arne seca,
Arroz,milho e açafrão;
Raizes, grãos e folhagem
Tinha passagem
Naquele pilão
Nas poucas casas que tinham
O rádio a mera atração
A família reunia
Pra escutar a programação
Pela Rádio Aparecida
A tarde a Consagração
À noite o Repórter Esso
Era o acesso
À informação
Vida simples e custosa
Recuada no passado
Mesmo assim tenho saudades
Do meu viver acanhado
Eu, menino calça curta
Sem conhecer povoado
Já sonha imaginando
Eu me mudando pra outro lado
Deslizando pelo tempo
Vim parar na capital
Aprendendo e praticando
Num esforço sem igual
Carregado de lembranças
E abraçando o ideal
De avançar para o nascente
E fazer do poente
O meu madrigal
Everaldo Reis Teixeira
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