Rádio Café Viola toca o melhor do sertanejo raíz

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

MINHAS LEMBRANÇAS


Santos Fortes, junho de 1.960 a março de 1.965.
É um lugar quase todo rodeado de serras, onde nasce um pequeno córrego afluente do ribeirão São Jerônimo Grande que juntos desaguam no Rio da Prata. Ali, a sessenta quilômetros de Ituiutaba, menos longe de Gurinhatã, vivi dos 17 aos 22 anos de idade, aproximadamente.
Durante a semana o trabalho duro da roça sob sol forte, poeira, frio de geada, chuvarada e cercado do perigo de cobras, escorpiões, formigas, marimbondos, entre espinhos, carrapichos, tempestade e enchentes. Enxada, machado, facão, foice e enxadão eram as ferramentas de todos os dias, além de plantadeiras e carpideiras puxadas por cavalos, que também eram utilizados para viagens - ou bicicletas.
Nos finais de semana sempre aconteciam as festas de santo ou bailes de terreiro (casamentos, noivados, aniversários, mutirões), animados com os sanfoneiros e violeiros da região cantando os sucessos de artistas famosos da época e muita alegria.
Seresteiro da Lua, Dois Corações e Aliança, de Pedro Bento e Zé da Estrada; Morena Bonita, Linda Cigana e Chega de Sofrer, de Silveira e Barrinha; Hoje Está Fazendo um Ano, Beija Flor das Penas Verdes e Coração da Pátria, de Silveira e Silveirinha; Minha Vida é Você, Duas Coisas e Canarinho Prisioneiro, de Praião e Prainha; Amor Distante, dos Filhos de Goiás, entre tantos e tantos outros.
Animação dos bailes ficava por conta de Canadá e Canelinha, os Irmãos Amaral, os filhos da Ambrozina e os sanfoneiros Atayde, Nadir, Adailton e Nenzinho Leiteiro, quando não vinham artistas da cidade ou de outras bandas.
Os bailes na casa do seu Gil, Antonio Rodrigues, Maximino, Jorgino Lobo (o marcador de quadrilhas) ou do Dêgo (o dono da venda) eram os melhores. E o baile da Totôca, todo mês de setembro!... Era de arrebentar! Vinha gente de muito longe, até da cidade!
O local escolhido para dançar, geralmente na frente ou do lado da casa, tinha que ter o chão aplainado e batido; uma tolda (cobertura) era improvisada com estacas de madeira fincadas no chão, travadas com varões amarrados com com arame, corda, embira ou cipó e um "pano de bater arroz" estendido por cima, com as laterais caidas para vedar contra o vento frio ou chuvas. Em situação extrema cobria-se com folhas de bananeira ou de bacuri.
O baile começava assim que anoitecia e não parava antes de ver o sol despontar - a ordem era "pegar o sol com a mão". Algumas regras eram observadas: as damas não enjeitavam e também não dançavam conversando e muito menos ficavam de mãos dadas. No final da música se batessem palmas a mesma era repetida e o par também repetia a contradança - algumas exceções para os casais casado ou namorados. Os cavalheiros não podiam fazer "esteirinha", ou seja, amontoar em cima das moças para convidá-las a dançar.
No meio da noite o dono da casa pedia um intervalo para oferecer café com quitandas assadas de véspera em forno caipira, e aproveitava para umedecer o chão para conter a poeira.
No geral era só moda sertaneja que se escutava, tocava e cantava nas festas e por todo lado; e a gente acompanhava com interesse pelas rádios Record, Nove de Julho, Tupi, Nacional, Aparecida e Difusora de São Paulo e Brasil Central de Goiânia o surgimento de novas duplas e trios; Tibagi e Miltinho, Durval e David, Flor da Serra e Pinheiral, Dono da Noite e Riacho, Caçula e Marinheiro, Délio e Delinha, Duo Glacial, Os Filhos de Goiás, Manuelzinho e Jaguarão, Pedro Bento Zé da Estrada e Celinho, Nenete Dorinho e Nardelli, Praião, Prainha e Rezendinho, Zé Fortuna, Pitangueira e Zé do Fole... Hi! Não cabe o nome de todos que eu me lembro.
Pecado era não escutar o programa "Ofertas Musicais" da Rádio Platina de Ituiutaba - a dona absoluta da audiência! - música sertaneja quase o dia todo, todos os dias e avisos - os mais pitorescos! - tudo pago pelo ouvinte que solicitasse. Em seus programas de auditório e "A HORA SERTANEJA" nasceram Cheirinho e Joani (Os Pertaltas do Sertão), Juvelino e Castolino, Leonísio e Leonésio, Nonoca e Marciel, Miragi e Valtinho, Crioulo e Landinha, Batutinha (hoje Ribeirinho) e Praião e Prainha. Nhozinho, Luiz Conceição, Seresteiro e Baduy, Letinho e Silvério e Barrinha também passaram por lá, entre muitos outros.

Foi um tempo de vida intensa e proveitosa que deixou enormes saudades!

Everaldo Reis Teixeira
saladevioleiros.blogspot.com 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

SALA DE VIOLEIROS: O POVO E A MÚSICA - POR JOÃO CLÁUDIO

SALA DE VIOLEIROS: O POVO E A MÚSICA - POR JOÃO CLÁUDIO: A música é ama coisa que atrai um público espontâneo a lugares onde ela é apresentada de uma forma que traz identidade tanto ao artista com...

O POVO E A MÚSICA - POR JOÃO CLÁUDIO

A música é ama coisa que atrai um público espontâneo a lugares onde ela é apresentada de uma forma que traz identidade tanto ao artista como a quem a aprecia. Houve um tempo em que eu ouvia Belmonte e Amaraí pelas rádios e sequer sabia de que dupla se tratava, chamando de "paulistinha" sua música mais famosa - Saudade de Minha Terra.
Depois comprei um rádio portátil de 6 faixas, da marca Motoradio e passei a ouvir o programa Linha Sertaneja Classe A pela Rádio Record de São Paulo. Aí, sim, passei a conhecer os artistas caipiras que hoje, em sua maioria, são falecidos como Tonico e Tinoco, a exemplo do próprio apresentador, José Russo.
Dos que ultrapassaram aquela fronteira e estado, por aí temos dos que eu conhecia apenas Chitãozinho e Chororó e Lourenço e Lourival. A primeira dupla cantava naquele distante ano de 1.979 a música  que ainda é cantada, a clássica SESSENTA DIAS APAIXONADO.
Na verdade eu tenho o LP original e quanto a Lourenço e Lourival, essa dupla fazia sucesso com a música MENINA DA ALDEIA. Lembro-me também de Irídio e Irineu, Pedro Bento e Zé da Estrada e Zé canhoto e Robertinho.
Mas, a despeito daquele programa, de linhas rurais não ser mais o mesmo, hoje se ouve em grande escala o sertanejo universitário que, apesar de não se executar as músicas da forma primitiva dos "caipirões" de verdade, detêm o que precisamos para manter a nossa identidade rural, com alguma coisa de urbano, coisa que, a todo tempo, já se fazia.
A gente escuta o que gosta e tapa os ouvidos na hora da zueira. O principal de tudo isso é que o povo precisa se alegrar e os artistas em qualquer modalidade estão cumprindo o seu papel, levando a alegria para onde o público está.

Everaldo Reis Teixeira
saladevioleiros.blogspot.com